quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Thiago

Thiago mexia nas unhas meio roídas e se concentrava no sol que passava filtrado pela janela do metrô. Tirava aquela sujeirinha que aparece quando a unha já está há mais de uma semana sem ser cortada e jogava no chão, passando entre um dedo e outro. Usava roupa social, porque era requisito em seu trabalho. Ganhava pouco, mas ninguém dizia. O cabelo era arrepiado, como os meninos de sua época costumavam usar. Tinha o olhar sério e fixo. Nem o sol o ofuscava, permanecia parado e concentrado. Não lacrimejava nem nada. Vez ou outra, quando não estava limpando as unhas ou mexendo os pés estranhamente ao som de uma banda popular que tocava em seu iPod, ajeitava o piercing do nariz. Uma argolinha fina, na narina direita. Quase imperceptível, mas assim que era percebida lhe dava toda a personalidade que faltava naquelas roupas de advogados, vestidas pelo office boy do escritório de advocacia. Levantou ainda mais a manga da camisa meio rosada, porque era janeiro, e revelou uma estrela tatuada no braço direito, mais ou menos três centímetros de estrela no antebraço quase sem pelo. Ajeitou a manga, dobrando-a mais para cima. Fez o mesmo com o braço esquerdo e parou. Não sei se parou porque cansou ou porque mudou a música que tocava em seu ouvido. E quando parou, voltou às unhas e ao sol.


Nenhum comentário:

Postar um comentário