quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Eliza

Eliza trabalha todo dia naquele camelô que vende biscoito Frank perto da universidade alí no Maracanã. Faça chuva ou faça sol. Mas se fizer temporal, não tem como. Eliza não sai de casa nem manda os netos pra escola. Fica todo mundo em casa, vendo Encontro com Fátima e RJTV Primeira Edição. Quando a chuva não cai e o sol está muito forte, Eliza coloca logo a viseira rosa. Aquela que a menina da novela das nove usava no ano passado. Se enche de pulseiras e anéis e desce a Mangueira. Monta a barraca alí entre a amendoeira e aquele rapaz que ela nunca lembra o nome, só lembra que o nome começa com L. Isso, aquele que vende umas coisas inúteis feitas de papel. Eliza às vezes tem pena dele porque ele compra biscoito com ela na hora do almoço. Ela então faz várias suposições de que ele deva ser sozinho na cidade e não tem ninguém que faça uma marmita com feijão e arroz para ele. Outras vezes ela tem pena é de quem compra as coisas com ele. Onde já se viu?, ela pensa. Comprar sacola  de jornal nessa cidade que quando chove faz estrago! Vê o dia todo os meninos passarem, saindo do metro e indo estudar. Sonha com o dia que o neto mais novo acabar o segundo grau e passar no vestibular. Ele dizia há um tempo atrás para ela que queria fazer faculdade de Direito. Imagina só, ele de terno e gravata!


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